FOTO DO ALMOÇO ANUAL

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A VELHA MALTA

sábado, 12 de março de 2011

TSUNAMI




O TSUNAMI

Impressionante. Quem viu o funcionamento do Tsunami no Japão, pela TV, deveria, no mínimo, de ter ficado aterrorizado, com o desenrolar do acontecimento. Uma cidade como Sendai, no nordeste, que foi a região atingida, ser acometida dum desregulamento da natureza e começar a cair por todos os cantos, é assustador, pelas poucas chances que deixa para recuperar.
Quando o meu padrasto faleceu, na sua homília de despedida na capela, o senhor prior comentou o falecimento desta forma: tens muito dinheiro, olha para ali (e apontava para o caixão), tens muitos automóveis, olha para ali, tens muitas hortas, olha para ali e por aí diante.
Houve muitos escritores que se revoltaram contra esta forma de vida, que agora o Tsunami aproveitou para demonstrar que de facto a vida não vale nada. Mas as pessoas não querem saber disso, mas Raul Brandão e Torga, quiseram.
Diz Brandão: “O hábito é que me faz suportar a vida. Às vezes acordo com este grito: - A morte! A morte! - e debalde arredo o estúpido aguilhão. Choro sobre mim mesmo como sobre um sepulcro vazio. Oh! Como a vida pesa, como este único minuto com a morte pela eternidade pesa! Como a vida esplêndida é aborrecida e inútil! Não se passa nada, não se passa nada. Todos os dias dizemos as mesmas palavras, cumprimentamos com o mesmo sorriso e fazemos as mesmas mesuras. Petrificam-se os hábitos lentamente acumulados. O tempo mói: mói a ambição e o fel e torna as figuras grotescas”
“Toda a gente forceja por criar uma atmosfera que a arranque à vida e à morte. O sonho e a dor revestem-se de pedra, a vida consciente é grotesca, a outra está assolapada. Remoem hoje, amanhã, sempre, as mesmas palavras vulgares, para não pronunciarem as palavras definitivas. E, como a existência é monótona, o tempo chega para tudo, o tempo dura séculos”
“A vida é fictícia, as palavras perdem a realidade. E no entanto esta vida fictícia é a única que podemos suportar. Estamos aqui como peixes num aquário. E sentindo que há outra vida ao nosso lado, vamos até à cova sem dar por ela. Estamos aqui a matar o tempo “
“Reduzimos a vida a esta insignificância... Construímos ao lado outra vida falsa, que acabou por nos dominar. Toda a gente fala do céu, mas quantos passaram no mundo sem ter olhado o céu na sua profunda, temerosa realidade? O nome basta-nos para lidar com ele “
“Desde que se cumpram certas cerimónias ou se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto - tudo ao mesmo tempo. A honradez deste homem assenta sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religião, a ganância e o escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por tabiques. Agora é a vez da honra - agora é a vez do dinheiro - agora é a vez da religião. Tudo se acomoda, outras coisas heterogéneas se acomodam ainda. Com um bocado de jeito arranja-se-lhes sempre lugar nas almas bem formadas “
Colocado por
JBS

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