FOTO DO ALMOÇO ANUAL

FOTO DO ALMOÇO ANUAL
A VELHA MALTA

segunda-feira, 18 de julho de 2011

CANTAR DE BALDÃO

CANTAR DE BALDÃO

recolha de João Briot Sousa


Em volta de uma mesa sentam-se os cantadores, normalmente juntinhos e sobre a mesma dispõem-se os copos e coloca-se o mais. Buscam posições, procuram parceiros, trocam olhares fugidios, disfarçadamente miram a aparência dos concorrentes, tossem, pigarreiam, limpam a garganta, passam sugestivamente a mão pelo pescoço e invariavelmente lamentam-se pela sua fala que hoje para nada presta.


Tenho estado tão constipado ... se calhar até nem canto, é o costume dizerem.Mas cantam sempre, é uma desculpa adiantada para qualquer falho ou para iludir os outros se eles se fiarem nas queixas.Entretanto, todos se aconchegam, ajeitando-se nos lugares para darem largueza ao tocador. E a campaniça começa a retenir a moda da marianita do princípio ao fim. Sempre assim foi e assim será. Tal como o rumo das cantigas, segue obrigatoriamente o percurso inverso ao sentido dos ponteiros do relógio. É um preceito. Uma regra que ficou estabelecida desde o início deste cante para que cada vez que se juntam não tenham de estar a preocupar-se com os pormenores da volta.Mas depois dos primeiros acordes, os olhares fixam-se na boca e os sentidos nos dizeres do cantador que é o mão.


Cresce a tensão, aumenta o desejo, redobra o frenesim e o silêncio do principiante é insuportável. O tocador que já percorreu a moda ponto por ponto então sustem-se, já não abala, pisa as cordas com os dedos esquerdos e desata a repetir a chamada com a unha acrescentada do polegar direito fazendo soltar à viola ganidos de impaciência. Chegados aqui, o cantador já sem saída, ganha fôlego, fecha os olhos, enterra a boina e lá vai.Lançada a primeira cantiga, as demais já se sucedem sem tanto receio, naquele dito rodar às avessas do tempo.Enquanto a vez não chega, matina-se na cantiga seguinte, debica-se no petisco e vazam-se os copos. Pouco se fala para não entreter, para não fazer fugir o tino e a rima.


E aos dizeres dos cantadores os outros respondem no flagrante só com incontidos acenos de cabeça ou piscadelas de olho furtivas.Quando chegar a sua vez logo ripostam se for caso disso e se a habilidade lhes bastar. São regras, são preceitos.O cante depois começa a buscar-se a si próprio, engendra um fundamento, tem de encontrar um rumo. E a poesia fervilha, repentista, cortante, às vezes marota. De tudo se trata, ali tudo se diz, rimando, com uma musicalidade e uma entoação que nos transportam longe.Os cantes são desafios à imaginação, à inspiração e à resistência. Duram horas a fio, sempre sem quebras nem pausas, penetram pelas madrugadas como se o tempo a cantar não contasse.O tocador nada lhes diz, ouve-os, olha-os, de quando em vez deixa escapar um sorriso. Os outros levantam-se nos intervalos da sua vez quando precisam de despejar o bebido, mas o mestre aperta-se, sustem-se, para não quebrar a magia que a viola e o rodopiar das razões geram em volta da mesa.Discutem mil assuntos, acertam contas antigas, mas filosofam invariavelmente acerca da valia da honra, do dinheiro, do ferro, do ouro, do campo e da serra.


Que saber o seu, que arte a deles.Do fundo de tal tempo, guardam a memória de cantares antigos, de génios andantes que de feira em feira ganhavam sustento e acrescentavam a fama.Derivado do despique este cante arreigou-se nas fraldas da serra*, ali se forjou e ali perdura, alimentado pela seiva de gentes ricas em valores tradicionais e senhores plenos da sua identidade.Readquiriu, recentemente, grande fôlego esta expressão vocal e poética tendo os seus intérpretes voltado a sentir brio na sua arte. O baldão furtou-se a uma morte anunciada e ganhou alma, alento, adeptos, ouvintes, apreciadores. Tem, presentemente, tudo o que é necessário para vencer o esquecimento e continuar a cantar-se no sentido inverso ao dos ponteiros que marcam o ritmo dos dias.

José Francisco Colaço Guerreiro

domingo, 17 de julho de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Feliz Dia Internacional da Mulher


O MEU POEMA
Inês Senes

Essa é minha singela homenagem a todas as mulheres que enfrentamos a vida com tanta coragem e docilidade sem jamais perder a fé e a esperança na vida.

Mulher...
Que traz beleza e luz aos dias mais difíceis
Que divide sua alma em duas
Para carregar tamanha sensibilidade e força
Que ganha o mundo com sua coragem
Que traz paixão no olharMulher,
Que luta pelos seus ideais,
Que dá a vida pela sua família
MulherQue ama incondicionalmente
Que se arruma, se perfuma
Que vence o cansaço
Mulher,
Que chora e que ri
Mulher que sonha...
Tantas Mulheres, belezas únicas, vivas,
Cheias de mistérios e encanto!
Mulheres que deveriam ser lembradas,amadas, admiradas todos os dias...
Para você,
Mulher tão especial...

Feliz Dia Internacional da Mulher!

COMENTÁRIO

Uma mulher, melhor uma poetisa que se junta às mulheres em defesa dessa enorme qualidade que é ser mulher.

Voltarei ao assunto.

Por agora, os meus parabéns pela grandiosidade do gesto e pela solidariedade feminina.

Gostei.

João Brito Sousa

quinta-feira, 14 de julho de 2011

A ARTE




A ARTE
Por João Brito Sousa

A arte, no sentido puro do termo, nunca ninguém definiu, mas poderá dizer-se que é o resultado de um trabalho, onde se evidencia toda a expressão dos sentimentos que quem a produz possui. É verdade que todos nós temos sentimentos, quer dizer, todos nós sentimos, mas não temos igual intensidade pelo que, não nos manifestamos em igual modo e direcção. Para se perceber uma obra de arte é preciso educar o ver. Muitas vezes entramos num Museu e o que é arte para os entendidos, os críticos, os conservadores dos museus, os historiadores, para nós leigos na matéria, o que estamos a ver é outra coisa. A arte uma vez exteriorizada e exposta produz em quem a executou uma sensação de conquista, uma sensação de vitória, que foi o que sentiu Miguel Ângelo ao concluir a estátua da Pietá. Só te falta falar, terá dito.

O artista é um indivíduo que tem atrás de si a preocupação dos males do mundo e tenta intervir, satirizando este ou aquele aspecto menos conseguido. Arte, nasce e morre com a gente, disse António Aleixo. Mas isto não chega, continuamos leigos na mesma. O campo artístico é vasto, está na pintura, está na escultura, está na arquitectura, na poesia e por aí fora. A gente olha ou lê e alguns de nós não entendemos nada. Não há comunicação entre quem percebe e quem não percebe. É preciso dedicação à causa e muita. Há uma barreira entre quem percebe e não percebe. Decidir sobre o que é arte ou avaliar um trabalho artístico são desempenhos diferentes. Mas ambos têm que ter o conceito de arte bem definido.

Se houvesse um modelo de definição para o que é arte e o que não é arte também não resolveria nada. Porque cada um tem a sua sensibilidade própria e não vê mais além e, além disso o gostar evoluiu e é um processo contínuo, que pertence à história da arte. Todavia as opiniões sobre obras de arte são variáveis e isso vem desde longos tempos. A grandiosidade da obras artísticas terão necessariamente encaixadas nas épocas em que foram executadas, tendo em atenção conjunturas passadas e presentes.

O problema que se coloca é, se uma obra agrada ao autor, estamos perante ma obra de arte ou é preciso agradar aos outros também? O quadro “La Gioconda” de Da Vinci, tem diversas interpretações no olhar da retractada, mas nunca ninguém disse que o quadro não é uma obra de arte. Mas aqui, na análise deste quadro, há algo de palpável o que já não acontece com as obras de Picasso, Dali e de outros.

E a poesia de Ruy Belo, Herberto Hélder, Manuel Madeira, António Ramos Rosa, Casimiro de Brito e de outros, é obviamente, éarte.


Será assim ?

jbritosousa@sapo.pt

segunda-feira, 11 de julho de 2011

(José Saramago)
A VIAGEM DE UM HOMEM
(retirado do jornal A AVEZINHA)




“Sempre acabamos por chegar aonde nos esperam.” (in A Viagem do Elefante, José Saramago)



“E o que é que nos espera? A morte, simplesmente. Poderia parecer gratuita, sem sentido, a descrição, que não é exatamente uma descrição, porque é a invenção de uma viagem, mas se a olharmos deste ponto de vista, como uma metáfora, da vida em geral mas em particular da vida humana, creio que o livro funciona.” (José Saramago em entrevista à agência Lusa)


Neste entrevista, José Saramago comenta o seu livro A Viagem do Elefante, “O livro narra uma viagem de um elefante que estava em Lisboa, e que tinha vindo da Índia, um elefante asiático que foi oferecido pelo nosso rei D. João III ao arquiduque da Áustria Maximiliano II (seu primo). Isto passa-se tudo no século XVI, em 1550, 1551, 1552. E, portanto, o elefante tem de fazer essa caminhada, desde Lisboa até Viena, e o que o livro conta é isso, é essa viagem”. Na realidade, o livro não aborda nada para além disto mesmo: é uma viagem feita por um elefante que tal como qualquer elefante, não pensa, não tem sentimentos, não é humano nem age como humano; é um elefante puramente elefante. Por isso, o autor considera a história um conto e não um romance, “porque lhe falta o que caracteriza em primeiro lugar um romance: uma história de amor -o elefante não conhece uma elefanta no caminho - e conflitos, crises”.


Tal como podemos imaginar os dados históricos existentes são poucos. Como tal, o prémio Nobel português teve de recorrer à sua imaginação e criatividade para fazer de uma simples viagem de um elefante, um livro que fosse mais além do percurso percorrido por este. “Os dados históricos eram pouquíssimos e o que há tem que ver principalmente já com o que se passou depois da chegada do elefante à Áustria. Daqui de Lisboa até lá, não se sabe o que aconteceu. Sabe-se, ou parte-se do princípio de que foi de Lisboa até Valladolid - onde o arquiduque era, desde há dois ou três anos, regente, em nome do imperador Carlos V (de quem era genro) -, que embarcou no porto da Catalunha para Génova e que tudo o que não foi esta pequena viagem de barco foi, como costumamos dizer, à pata”, esclarece.


José Saramago explica que contou a história “em primeiro lugar, porque me apeteceu, e em segundo lugar, porque, no fundo - se quisermos entendê-la assim, e é assim que a entendo - é uma metáfora da vida humana: este elefante que tem de andar milhares de quilómetros para chegar de Lisboa a Viena, morreu um ano depois da chegada e, além de o terem esfolado, cortaram-lhe as patas dianteiras e com elas fizeram uns recipientes para pôr os guarda-chuvas, as bengalas, essas coisas”. Assume que “Quando uma pessoa se põe a pensar no destino do elefante - que, depois de tudo aquilo, acaba de uma maneira quase humilhante, aquelas patas que o sustentaram durante milhares de quilómetros são transformadas em objetos, ainda por cima de mau gosto - no fundo, é a vida de todos nós. Nós acabamos, morremos, em circunstâncias que são diferentes umas das outras, mas no fundo tudo se resume a isso.”


No documentário José e Pilar assistimos ao processo de criação realizado por um dos maiores génios da literatura portuguesa, presenciamos o nascer d’A Viagem do Elefante. O documentário podia ser somente sobre isso, o lado profundo da criação tendo como protagonista o prémio Nobel português. Todavia, assistimos a uma história de amor; conhecemos um José e uma Pilar, tão reais e verdadeiros quanto um casal comum; duas pessoas que apesar de diferentes têm em comum a força que luta por um mundo melhor. Ao longo do filme torna-se evidente que a união entre genialidade e simplicidade é possível.


Tive o prazer de ir ao lançamento do DVD e banda sonora do documentário José e Pilar. Mesmo já conhecendo o filme, não deixei de o ver como se da primeira vez se tratasse (as grandes obras têm esse lado mágico).


Todos os portugueses deviam proporcionar a si mesmos a oportunidade de conhecer o José para além do Saramago. Sem cores politicas ou ideais religiosos devemos ser capazes de valorizar e de nos orgulhar daqueles que tanto fizeram pela língua portuguesa. José Saramago nasceu e morreu português!


Recolha de

JBS

domingo, 10 de julho de 2011

A POUCA EVOLUÇÃO DO HOMEM

(João Brito Sousa)



A PEQUENA EVOLUÇÃO DO HOMEM
Por João Brito Sousa


Falar da evolução do Homem é, queiramos ou não, um trabalho sempre inacabado. Mas que vale a pena tecer algumas considerações.

O homem está aí e se tem feito coisas excepcionas nos mais diversos campos das artes, das ciências e da investigação, acontece que em muitos quadrantes da Terra, em muitos Países, nomeadamente, esse mesmo Homem parece não ter ainda saído da época da pedra lascada, do aparecimento da roda e do fogo e dos tempos da tanga. Penso eu. Até porque vi isso nalguns países por onde passei e o que vi, traduz-se numa confrangedora falta qualidade de vida. Para não dizer condições precárias de vida. O Dr. Fernando Nobre citou na sua candidatura à Presidência da República, aquela cena da criança querendo retirar do bico da galinha um pouco de pão seco. Isto nos dias de hoje, que nos deixa atónitos. E é aqui que quero chegar. Ou seja, porquê isto ? Afinal, qual é o papel do homem na sociedade, onde é que deve chegar e pode chegar, qual deve ser o seu comportamento perante si e perante os outros.



Hoje, dois milhões e tal de anos passados da sua aparição no planeta Terra, com tantas Universidades para aprender qual o caminho a seguir, o homem ignora tudo e só tem um objectivo: o lucro. Isso mesmo que já dizia o escritor Eça de Queiroz no século passado. E Almeida Garrett deixou esta pergunta no ar: - sabeis vós quantos pobres é preciso sacrificar para se constituir um rico? O homem está aí. Esse mesmo homem que nos trouxe, como prémio da sua brilhante actuação, uma crise económica e financeira, a nós, portugueses, a quem chamam agora um País periférico. Como chamam á Grécia, o País onde começou a civilização e onde hoje se vê nas ruas de Atenas, a antiga capital da cultura, ou, se quisermos, o berço da cultura, onde os filósofos e os poetas sobressaíram, cenas degradantes de falta de cultura. Esta não evolução do homem. eis a questão.



Quer dizer, no País, onde o filósofo Platão escreveu a forma de organização da sociedade, num livro chamado República, os sistemas políticos hoje vigentes, trazem para as ruas a briga entre a autoridade e os residentes. Alguma coisa falhou. O que foi? O homem não responde a isto e deixa-se cair no ridículo de se ofender uns aos outros, na praça pública, numa postura de ofensas e desconsiderações pessoais.


Na época do Neolítico, a primeira fase da existência do Homem, este, para sobreviver, dedicava-se á caça de pequenos animais e quando se prestava para caçar animais de maior porte, teve o bom senso de se juntar a outros homens, porque sozinho, via-se impotente para dominar o adversário. Aqui, revelou grande inteligência ou intuição nesta atitude, que foi, quanto a mim, uma das primeiras formas de solidariedade que o ser humano registou entre si. Hoje, por mais estranho que pareça, o homem é muito pouco solidário, daí o título desta crónica, onde se diz que o homem pouco evoluiu. O que não deve sofrer grande contestação e que, ao mesmo tempo se lamenta. Porquê ? deixo a pergunta.


Foi Descartes, um filósofo francês do século XVII que disse: “Penso, logo existo.” O curioso disto tudo é que o homem gastou dois milhões de anos para chegar a esta conclusão, mas, tal como que disseram outros grandes pensadores, não a colocou em prática, o que não dignifica o seu comportamento perante o próximo. O homem pensa? Em quê? Lamentavelmente nada disso, se nota.


Impressionante, isso.



sexta-feira, 8 de julho de 2011

AS AGENCIAS DE RATING

(Dr. Rogério Barroso)


AGÊNCIAS DE «RATING»
mail recebido de ROGÉRIO BARROSO – Monte Francisco, quinta-feira, 7 de Julho de 2011

O meu compadre Jaquim foi hoje aos Correios (CTT) de Castro Marim para levantar o dinheiro que o Estado português lhe devia e lhe mandou num vale postal. O vale foi emitido em 5 de Julho, e o mê compadre só poude receber a maquia no fim da tarde de hoje. Isto porque, ontem e hoje, a funcionária desta velha empresa do Estado, mais tarde empresa pública, actualmente empresa privada (sociedade anónima), não tinha dinheiro para lhe pagar, muito embora o vale postal deva, por lei, ser pago, no momento da sua apresentação ao balcão dos CTT.


Quando recebeu a dita importância, o mê compadre havia deixado de receber 1,20 euros (juro de compensação à taxa legal de pagamento do Estado português aos seus credores internacionais e quase à taxa legal para as dívidas dos comerciantes em Portugal), a empresa CTT (que vai ser brevemente privatizada de forma completa, ou seja: entregue a uns figurões sócios do Cavaco Silva e amigos e patrões do Pedro Passos Coelho, devendo o Estado pagar por cima, por mor de a empresa estar em muito deficientes condições financeiras e o Estado de Portugal assumir isso como culpa sua por via de ter nomeado os administradores que malbarataram a mesma, e que agora serão confirmados na administração pelos novos Figurões, sócios do Cavaco Silva e patrões do Pedro Passos Coelho, que vão ficar com a empresa e com o dinheiro do Estado português) enriqueceu na mesma medida sem nada ter feito para isso (apenas à custa do seu incumprimento da lei de Portugal e do facto de deter esse dinheiro em seu poder irregular, ilegal e ilegìtimamente, recebendo esse valor do banco respectivo – BES, BCP Millennium, Banif ou CGD – bancos esses detidos e dirigidos pelos banqueiros ladrões que vão ser agora duplamente enriquecidos pelo dinheiro que vão receber das autoridades internacionais da troica de quatro, duplamente porque já o haviam antes recebido do Estado de Portugal, segundo o plano de Sócrates, do PS, do PPD/PSD e do CDS/PP para salvar a economia capitalista portuguesa), e o Estado português, ao aumentar a sua dívida «soberana» com mais essa quantia, perde este valor porque nem CTT nem nenhum banco lhe pagará jamais. Os Parolos aí estão e aí estarão para fazer sacrifícios.


Entretanto, o governo do Estado de Portugal pôs o país a saque. Ao pé destes, não só o Sócrates, mas até o Hitler (tal como outros chefes do capitalismo «democrático», cristão e ocidental, sejam eles ditadores ou «democratas»), são uns verdadeiros santos. Estudem só a forma como o Estado de Portugal, através dos seus administradores, vai proceder à cobrança do imposto especial em que gamam metade do subsídio de Natal aos que trabalham (atenção que não há nenhum imposto especial sobre os que nada fazem e vivem à custa do trabalho dos outros, nomeadamente o patronato gatuno!, nem, tão pouco, vai ser o Estado a cobrar directamente este imposto, a não ser aos pensionistas), ou vejam quem são os alunos das centenas de escolas que essa corja de bandidos (que dirige o Estado) está a encerrar.


Há aí, nomeadamente nos Estados Unidos da América, uns escritórios de malta que passa a vida a dar informações (nos tempos do meu pai, o povo chamava-lhes «bufos»), e chama-se a cada grupo deles uma «agência de rating». Esta tropa fandanga está agora muito na moda e até nas tabernas do Montinho, onde eu moro, já muito se fala e discute sobre tais «gangs». Estas agências (como o seu nome designativo de natureza bem indica, são compostas de agentes, ou gajos que agem) têm como actividade aconselhar gente com muito dinheiro e que se dedica à alta agiotagem internacional, quase nunca por meios legais (mas muitas vezes por meios que os próprios Estados dos países transformam em legais através do abuso legislativo que é apanágio das administrações públicas das nações capitalistas). Devem fornecer-lhe conselhos e informação sobre se os aparelhos de Estado dos países aos quais tais Figurões emprestam dinheiro (o que fica a constituir a chamada «dívida soberana») fazem tenções ou têm capacidade de, em determinados prazos, lhes pagarem essas maquias que eles (investidores ou mercados, assim lhes chamam agora) já gamaram noutros lados, a outros Parolos, e que, agora, «emprestam» (modernamente chama-se «compra da dívida soberana») a esses Estados, através da administração pública de cada qual (representada pelos governos de cada país, que os energúmenos da parolagem local lá colocam, segundo as «eleições democráticas»).


Vai daí, caiu hoje o Carmo e a Trindade, porque uma dessas agências terá informado pùblicamente que a «dívida soberana» do governo do Estado de Portugal é merda (a tradução exacta da palavra inglesa empregue não é «lixo»). E veio meio mundo do «arco do governo» e da «zona do poder» clamar contra tal desaforo, usando os mesmos métodos de Santo António a falar com os peixes, ou do Judas a cagar no deserto, ou do António Silva a falar com o Pinóquio no «Páteo das cantigas». O Pedro Passos Coelho levou um murro no estômago, o Cavaco Silva disse que a oportunidade da agência não era esta, e os comentadores da comunicação social do regime (secundados veneradoramente pelos locutores da mesma) de tudo disseram já, para não terem de dizer o quanto estão desesperados perante esta implosão do capitalismo, que começou com a bolha americana e seus factos consequentes, veio a correr para a Grécia, está agora a atingir a Irlanda e Portugal, e já ameaça directa e concretamente a Itália, a Inglaterra e a Espanha. E estamos só no começo das consequências internacionais de tal implosão!

«O início do esplendor da monarquia de Inglaterra não pode ser separado de algo fundamental da História dos tempos modernos: o processo de secularização que atingiu o seu ponto culminante quando, na transição do final do século XVIII para o início do século XIX, o Antigo regime ruiu e os bens da Igreja foram confiscados. A importância deste processo de secularização do desenvolvimento histórico do Ocidente foi realçado e sublinhado por numerosos Autores (…). Ora, no caso específico inglês, torna-se praticamente impossível conhecer nos seus contornos o expansionismo e o imperialismo britânicos ao longo dos séculos, sem antes compreender a repercussão do fenómeno da secularização provocado pela Reforma em Inglaterra.
Na abordagem de uma questão crucial como esta, um Autor tão importante como Laski chegou mesmo a afirmar, referindo-se justamente ao caso específico inglês, que “aquilo que o Estado fez em prol do liberalismo no século XVI é diferente daquilo que em épocas posteriores se lhe exigiu que conseguisse… Sem dúvida podemos dizer que aquilo que o século XVI trouxe consigo foi a destruição da autoridade eclesiástica na esfera económica. Isto permitiu que as relações comerciais se desenvolvessem sem qualquer incómodo de considerações teológicas.”. Foram múltiplos os Autores, de entre os quais Troeltsch e Max Weber, que estudaram o fenómeno das relações entre o protestantismo e o desenvolvimento capitalista, enquanto outros, como Von Martin, Fabvre ou Laski se detiveram privilegiadamente – como fizeram posteriormente os Autores positivistas e marxistas – na profunda repercussão política e social das medidas simultaneamente económicas e religiosas. Com efeito, a destruição da autoridade da Igreja permitiu – com especial incidência em Inglaterra – o surgimento e a consolidação de um Estado de carácter cada vez mais secular, o qual procurou e conseguiu determinar, como uma das suas missões básicas, o desenvolvimento de uma nova ideia – que poderá ser fàcilmente considerada como ideia liberal – e que acabou por substituir o papel eclesiástico na tarefa de configurar a realidade de um novo guardião do bem-estar social. O novo Estado monárquico inglês, no intuito de ajudar a fomentar o seu prestígio, ocupou-se da construção da sua própria moral sòcio-política e económica, fazendo-a assentar no princípio da “utilidade”(…)


Todo este processo, como será fácil de imaginar, teria repercussões importantíssimas em todos os âmbitos da vida social e cultural, implicando uma mudança transversal que decorria do facto de o Estado não perseguir, como fim, a realização por parte dos cidadãos de uma vida boa e santa, mas sim a criação de condições que propiciassem a existência de fontes de riqueza, através de meios legislativos favoráveis ao desenvolvimento de bons negócios». [in ANTONI JUTGLAR, professor da Universidade de Barcelona].

As agências de «rating» têm razão: a «dívida soberana» do Estado de Portugal é merda, é lixo!
E esses «bufos» avisam, dentro das suas obrigações perante quem lhes paga para tal, que quem tem dinheiro não o deve emprestar ao governo do Estado de Portugal, porque esta seita de caloteiros (a quem eu chamo igualmente «filhos de puta», «gatunos», «incompetentes», etc.) nunca mais lhes paga. Segundo as notícias do regime, o presidente do Banco Central Europeu diz que não vai ligar ao que dizem os «agentes rating», porque já «aceitou» a «dívida soberana» como garantia para os chamados «empréstimos» que a troica de quatro veio negociar com o PS, com o PPD/PSD e com o CDS/PP há dois meses, por cuja causa esta malta do poder anda agora a pôr o país a saque da gatunagem, seus amigos e patrões.

Querem que eu diga isto de outra forma?



recolha de

JBS

quinta-feira, 7 de julho de 2011

DIVAGANDO

(João Brito Sousa)



DIVAGANDO …
Por João Brito Sousa

Apetece-me ir por aí. Já estou na estrada e não tenho destino. Não sei para onde vou, mas sei que não vou por aí, como disse Régio no seu Cântico Negro. Tenho vontade de escrever e cá estou. Sem rede. São quase 17 horas e começo a sentir aquela sensação de perda de qualquer coisa, de que fala Saramago. Será a velhice a chegar?... pergunta ele. E eu também. A minha vida é a escrita. Já tenho obras publicadas. Mas publicar um livro e colocá-lo numa livraria é para se gastar uma fortuna e o livro depois, vai para uma estante e lá fica entalado entre mais de cem mil livros. Ninguém sabe que o meu livro está ali; só eu sei. E às vezes vou lá vê-lo e o desgraçado ainda lá está sem que ninguém saiba disso; apenas eu sei.





Deixemos os livros, pode o assunto não interessar e neste caminhar sem destino vamos parar aonde ?





Divagar… talvez sobre a vida, em geral. A vida sempre me fascinou. Pelo grande desafio que encerra, pelo mistério em que se envolve e nos envolve. A vida o que é ? É o silêncio das tardes, são as manhãs frescas é o marulhar das ondas, é o tudo e é o nada. É o poema Liberdade de Paul Eluard, é o cesto de pastéis e o assobiar de Gravoche a olhar a Bastilha a arder, é o amar perdidamente de Florbela Espanca, é a minha filha Alexandra, maníaco depressiva ou bipolar, que sofre e por arrasto, eu também. É o filme Zorba com Anthony Quinn, é o Há Lodo no Cais com Marlon Brando, é o Leão da Estrela com António Silva, é Amália a cantar o fado, que tanto gosto de ouvir. Silêncio que se vai cantar o fado. Há festa na Mouraria, almas rudes povo crente, hoje é dia da procissão, da Senhora da Saúde, e até a Rosa Maria, parece que tem virtude.





O silêncio é a própria vida e é a minha maior tentação. Refugio-me nele e adormeço, por vezes. Mas não há silêncio porque ainda há palavras, que mesmo gastas, gastam-nos. E mentem e ferem. As palavras, essas ferramentas que são património dos escritores, que, se deitam com elas, dormem com elas e acordam com elas.





E depois há as flores do jardim e da vida que nós amamos e nos amam. Ou nem sempre isso acontece, porque o amor nem sempre desempenha o seu papel. Não agarra como devia. Amei e julgava que me amariam, mas não fui amado, porque não tinha de ser, diz Pessoa. Mas uma crónica como esta, ou que seja melhor ou pior, não pode dissociar-se do amor. Com entrega plena. E realização total.





Falar de quê mais? Do homem, que tem evoluído tão pouco e que tem mostrado tanta ignorância, tanta falta de honradez, tanta falta do cumprimento dos princípios éticos. E eu o que sou no meio disto tudo ? Talvez um palerma, um louco, sei lá que mais. E assim vivo e assim estou neste palco onde todos representamos A vida é uma comédia. Ou talvez não. Resta-me os amigos que tive. Já não os tenho. Tenho saudades do futuro disse Teixeira de Pascoaes. E Juan Manuel Serratt disse, esta noche pago yo, e Manuel Alegre escreveu Cão Como Nós e as agências de rating chegaram e desclassificaram-nos. Só me apetece morrer disse, Herculano.





Cheguei ao fim desta crónica a dizer disparates. Terá sido ? Deixo-vos com Sophia,

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição/ Onde tudo nos quebra e emudece/ Onde tudo nos mente e nos separa/ Que nenhuma estrela queime o teu perfil/Que nenhum deus se lembre do teu nome/Que nem o vento passe onde tu passas/ Para ti eu criarei um dia puro/Livre como o vento e repetido/ Como o florir das ondas ordenadas.





Sophia de Mello Breyner Andresen

JBS

quarta-feira, 6 de julho de 2011

POETAS E TROVADORES


POETAS E TROVADORES
Por João Brito Sousa

Somos um País de poetas. Na verdade, em cada terra de Portugal, há sempre alguém com inclinação para a poesia. E, quando fazemos “alguma coisa com jeito” como disse António Aleixo, até nos julgamos poetas. Mas poetas são pessoas de sensibilidade enorme, pessoas com uma visão profunda da vida, com um talento apurado para dizer coisas que nos sabe bem ouvir, derivado da musicalidade da mensagem, da espontaneidade do pensamento expresso, da beleza que esse conteúdo contem e encerra, pela seriedade que encanta. Poeta é esse ser sublime, que pensa nos outros e se esquece de si.

A poesia, o resultado do trabalho do poeta, é uma descrição de um assunto de interesse local ou nacional, sujeito a regras. Tem princípios e encerra valores. São poucos os bons poetas, mas os que o são, orgulham-se disso. Mas é um assunto trabalhoso. Mas procurando, talvez se encontre o caminho, que vem dos clássicos gregos. Homero, Píndaro e Esquilo, foram grandes homens da poesia.


Os trovadores são os poetas da idade média.

João Brito Sousa

domingo, 3 de julho de 2011

A GRÉCIA



A GRÉCIA

Por Batista Bastos.




A Grécia parece ter peçonha. Nas reuniões internacionais, Papandreou é objecto de todas as recuadas atenções e de todos os silenciosos desfavores. Os países “periféricos”, nos quais se inclui Portugal, nada querem a ter com a Grécia, uma desgraça que dá azar. A simples menção do nome do país faz estremecer de horror os dirigentes da Europa “pobre.” A Grécia é-lhes desprezível. Temem o “contágio”, e afirmam, com fogosidade, nada ter a ver com “aquilo”. Se a Europa económica e política está a desfazer-se, a Europa moral (o que quer que a expressão signifique) só não cai em estilhaços – porque não existe.


Entre dentes ou, até mesmo, com clareza impúdica, políticos de países “menores” não querem paralelismos comparativos com os gregos. Os gregos são a desonra da Europa. Basta observar como o primeiro-ministro daquele país é olhado (de viés) e tratado (como um subalterno) para se entender o carácter separatista e discricionário da União. A Europa germânicamente “imperial”, tão bravamente desejada e imposta por Angela Merkel, faz o seu caminho, com exclusões e inclusões das mais absurdas. A fragilidade desta pseudoconstrução, na qual se pretendia criar uma nova identidade política e económica, com base num igualitarismo de poderes e de decisões, é uma evidência – e um colossal embuste.


A Grécia, por todos os motivos que a definem e nos definem, é uma instituição cultural e uma entidade política e estética que não deve ser submetida a estas desconsiderações, enraizadas num capitalismo tão predador quanto ignorante. Diz quem não sabe: a Alemanha e os países mais ricos não podem pagar pelos erros e desmandos dos dirigentes gregos. É verdade. Porém, as causas das coisas não são tão simples. E a aplicação, à Grécia, de juros superiores a mais 20% pode sugerir–nos que há teias insidiosas, cuja invisibilidade não é assim tão obscura. A quem e a que países interessa o desmantelamento do projecto europeu, e à acentuação de uma complexidade que nos inculca um desequilíbrio insustentável?


A ideia segundo a qual a Grécia criará um efeito de dominó imparável tem adeptos poderosos. E, nos meios de comunicação, há jornalistas e comentadores estipendiados para defender essas bandeiras. As quais são as bandeiras dos poderes ocultos que ambicionam o domínio sobre os Estados e a subversão da própria democracia.


A desobediência civil, manifestada em múltiplas e diversas acções dos gregos, poderá não ser, ainda, uma sintaxe revolucionária. Poderá. No entanto, um pouco por toda a parte, as pessoas começam a fartar-se das iniquidades e violências de um sistema que encaminha as nações para o caos. Preservar a liberdade num mundo cada vez mais cercado e caracterizado pela barbárie é um imperativo moral e uma imposição de consciência.



recolha de

JBS

sexta-feira, 1 de julho de 2011

OPINIÃO



A INCOMPETÊNCIA DOS HOMENS
Por João Brito Sousa

Nas relações amorosas, penso que o homem perde por não saber lidar com o assunto. Daí o título desta crónica. A minha geração ouviu falar disso nas aulas de Higiene no 4º ano, mas muito ao de leve. A mãe não nos ensinou nada e o pai muito menos. Talvez por vergonha e também porque deveriam saber muito pouco sobre a matéria. Creio que as mulheres estiveram sempre melhor preparadas. Raul Brandão, escritor português, até disse: ”foi ela que me ensinou o amor” creio que no Húmus.

O relacionamento entre sexos opostos provoca uma situação de bem estar em ambos, mas de intensidade diferente. A base do sucesso está na força do amor que nutrem um pelo outro. Sem amor não há relacionamento; há outra coisa qualquer. O amor, em meu entender, é feminino, i.é., no relacionamento deve existir um tratamento aveludado de um para o outro, com palavras doces envolventes, que façam subir a adrenalina dos corpos. É uma atitude feminina, chamo-lhe eu. É quando as emoções se soltam, mas, controladamente, no sentido de um e outro tirarem partido desses, digamos, doces momentos.

E é aqui que normalmente o homem falha, talvez por precipitação.. E há situações de difícil controle, nalguns casos. Porque o homem conduziu mal o processo e o que devia ser um acto de plena alegria e contentamento torna-se num acto doloroso.. Contaram-me que uma jovem de catorze anos, há sessenta anos, no dia do casamento abandonou o leito e foi juntar-se à mãe. Sentiu medo. Ora, isto também é outra prova de incompetência do homem. Ou talvez impreparação.

O homem (e a mulher, claro) vieram ao mundo com o propósito da procriação e este aspecto é fruto de uma relação entre os dois, pela via dos sentimentos que sentem entre si, sendo o mais nobre de todos esse que apelidamos de amor. Mas o amor, para ser conseguido exige dos que se amam outras componentes auxiliares como a ternura que aproxima, o carinho que seduz e a amizade que consolida.

Ama-se porque sentimos dentro de nós um chamamento para esse desempenho que deve ser de entrega total. Até ao fim, quando chegar a hora. É um acto que exige um sorriso em cada um. Acho eu. Quando falamos de amor, geralmente queremos dizer, fazer amor, que não é mais do que o resultado de uma necessidade fisiológica, que resulta do desejo que nos é provocado espontaneamente. Com crises à mistura que devem ser entendidas como situações normais porque depressa a situação normaliza.

Mas a prática do amor exige estudo, o que não se faz. Começa-se, nessa prática sem saber nada de nada, na Maria Machadão e seguimos o nosso rumo, sempre mal preparados em tal matéria. Penso até que alguns insucessos provocam no outro, na mulher, nomeadamente, algum desinteresse que poderá chegar a uma situação de convivência zero com a relação.
Não se pode chamar a estas mulheres, mulheres frias.

Porque é um resultado da incompetência dos homens.

Acho eu e mais alguém.

jbritosousa@sapo.pt