FOTO DO ALMOÇO ANUAL

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A VELHA MALTA

segunda-feira, 28 de março de 2011

ENTREVISTA AO JORNALTV.INFO


À CONVERSA COM JOÃO BRITO SOUSA

Por António Pereira


JOÃO MANUEL de BRITO de SOUSA é colaborador do jornalTV.info e acaba de lançar o seu 2º romance, “COMO SE GOSTASSE”, que pode ser encontrado na Livraria EuEdito ou contactando o autor directamente, enquanto não procede ao lançamento público do mesmo. O autor é um amante da literatura, escreve prosa e poesia e têm-lhe chegado alguns ecos favoráveis, referindo a qualidade dos seus trabalhos. Foi um homem profissionalmente relacionado com o mundo da gestão de empresas e com o ensino. Hoje é reformado e escreve crónicas em jornais, prosa e poesia e tem três volumes publicado. Aí vai o resultado da conversa.


1 – JORNALTV.info (JTV) - Tenho acompanhado os seus trabalhos, quer nos jornais quer nas suas obras publicadas. A literatura entrou-lhe assim de repente? O que o levou a produzir ?


JOÁO BRITO SOUSA (JBS) - Eu sempre gostei de escrever. Fazia redacções engraçadas na escola primária, pelo menos era o que a professora dizia. Imaginava cenários e descrevia-os. Ultimamente, há cerca de três anos, criei dois ou três blogues e foi através da leitura por terceiros, que fui contactado por uma editora para publicar os trabalhos que aí escrevia. Por sugestão da editora, desloquei-me à sede da empresa em Lisboa e aconteceu que me convenceram que era capaz de escrever um livro e meti mãos à obra. Compilei tudo o que tinha escrito, seleccionei o melhor, acrescentei mais umas páginas procurando dar-lhes uma lógica e saiu assim o “LUCIDEZ DE PENSAMENTO”


2 – (JTV) - Escrever nos jornais e escrever livros, o que se oferece dizer.


(JBS) – Eu considero-me um cronista quando estou a escrever para os jornais. Nunca serei um jornalista, que é o homem que está atento ao meio que o rodeia e quase chega ao local da notícia antes das coisas acontecerem. Um jornalista, tal e qual o bombeiro, está sempre disponível e atento e sente-se vocacionado para dar a notícia. Eu escrevo crónicas, que é bastante diferente. Muitas crónicas podem constituir um livro. E daqui pode partir-se para a ideia de se escrever um romance. Há muitos escritores que começaram no jornalismo. Hemingway, por exemplo, começou como jornalista correspondente de guerra e chegou ao Nobel da Literatura.


3 – (JTV) – Sim, mas como é que o livro nasce?


(JBS) – Espontaneamente. Eu quero escrever um livro e, daqui donde estou, olho à minha volta, capto uma imagem ou duas e vou para o computador. Pode não ser bem assim mas é quase. No livro que estou a escrever agora, ocorreu-me a lembrança de um médico que em tempos me passou um atestado, para justificar uma falta dada na escola onde leccionava. E lembro-me de ter encontrado esse senhor, noutra vez, sentado num café com mais duas ou três pessoas, a falarem de História de Portugal. Sem mais, ajeitei as duas coisas e já lá vão 19 páginas. E espero para o ano chegar às cem, no computador, que dará umas 180 no romance, o que é bastante bom. Nada programado. As palavras que vou escrevendo vão puxando por outras, os cenários que vou construindo puxam por outros e assim o romance vai tomando forma. Não preciso de ter tudo na cabeça; as ideias vão saindo e eu vou escrevendo. Os meus livros nascem assim.


4 – (JTV) - Como é a sua relação com a escrita?


(JBS) – A minha relação com a escrita é de grande amizade. Eu escrevo porque sinto essa necessidade de escrever. Para mim, escrever é estar a falar com alguém, é dialogar, é discutir, porque eu tenho necessidade de estar próximo dos outros fazendo coisas. Então, procuro através da escrita o outro, esse que não está ali à mão mas que eu substituo pelas personagens. E esses diálogos que escrevo, fazem-me companhia e eu sinto-me bem na sua presença, o que gera, enquanto escrevo uma grande relação de amizade entre mim e as personagens. Depois da obra terminada, tenho alguma saudade delas.


5 – (JTV) - Quando escreve pensa nos seus leitores. A sua escrita tem uma direcção definida. Escreve como?


(JBS) –. A direcção da minha escrita vai de encontro aos leitores. Chegar a eles, conquistá-los, estar perto deles é a direcção do meu trabalho Digamos que é para eles que escrevo. Mas curiosamente, depois da obra publicada, coloco-me na posição de leitor e gosto de ler aquilo que escrevi. Por isso digo-lhe que também escrevo para mim. Escrevo com uma certa ternura, como se estivesse a escrever um poema, com um certo ar de “suspense”, para agarrar o leitor.


6 – (JTV) – O que é que pensa de si como escritor?


(JBS) – Penso que ainda não sou escritor. Para se chegar a escritor há um longo caminho a percorrer. È um grande desafio e um trabalho que nunca está totalmente conseguido. Um escritor é uma pessoa muito ocupada porque é um homem de intervenção. É sempre um homem do seu tempo, quero dizer, pode escrever um tema do passado, introduzindo-lhe alguma actualidade. Há quem não concorde, mas a literatura é arte, a arte de escrever e por isso, tem a sua autoridade, pode e deve renovar. O que a literatura não deve fazer é inventar. Literatura é criação e formação. Não consegue ser um bom escritor quem não foi bom leitor Eu penso que poderei ser considerado como escritor a partir do próximo romance, porque vou empenhar-me nisso. Porque o escritor tem sempre coisas a corrigir e a melhorar e sobretudo a aprender. Somerset Maugham foi o primeiro a dizer “eu sou um escritor”, quando publicou o seu primeiro livro. Quem escreve o primeiro livro e se assume como escritor, revela-se corajoso.


7 – (JTV) – Preocupa-se com os assuntos que escreve ?


(JBS) – Os assuntos podem ser os mais diversos, posso ter ou não preocupação com isso, porque, o que acontece, é que na minha literatura, seja qual for o assunto, vai sempre ser contemplado com os princípios éticos que eu defendo e portanto, num certo sentido, os meus livros ensinam regras comportamentais, que no fundo é sempre essa a minha preocupação. Eu entendo que um romance deve explicar a quem o lê as verdades e mentiras do dia a dia, pormenores que constituem autênticas lições de vida.


8 – (JTV) – Faz muitas emendas ao texto?


(JBS) - Escrevo uma página e releio-a e no final do trabalho concluído, faço uma revisão geral, sendo esta a minha parte que se encontra menos desenvolvida, porque não tenho muita paciência para o fazer. Mas terei que o fazer ou dar a alguém que o faça porque já começo a ter responsabilidades nos trabalhos que elaboro. Hemingway, creio que foi no Adeus às Armas, modificou trinta vezes o final do livro. Outros fizeram outros tipos de emendas, inclusivamente, rasgando tudo e começando de novo. Eu, se tivesse que destruir algum romance na íntegra não faria mais nenhum com aquele conteúdo. É que, enquanto escrevo, vou sentido o sabor da escrita, quero dizer, escrevo para mim e simultaneamente para o leitor, que sou eu, enquanto escrevo. E como normalmente estou a gostar daquilo que estou a escrever, emendo pouco.


9– (JTV) – Fala muito de Hemingway. Alguma razão especial ?


(JBS) – Sim, há algumas razões. Hemingway iniciou-se no jornalismo e só depois começou a escrever romances e nisso há alguma coisa de parecido comigo. Depois as suas obras são autênticas obras de arte, fazendo questão de salientar “O Velho e o Mar”, como qualquer coisa de extraordinário. Ele coloca o velho e o tubarão em luta, no mar, apenas, mostrando claramente como é a vida, duma maneira geral. Tenho simpatia pessoal pela sua vida particular, um homem ousado e destemido, sempre próximo da morte, quer na linha da frente, na guerra, com a espingarda nas mãos ou nas touradas, tudo na “sua” Espanha e a parte terna, os seus amores violentos, a sua vida em Cuba, onde escrevia na sua Remingthon. Hemngway pareceu-me um homem que não lidava muito bem com a vida, mas foi, indiscutivelmente um grande homem da literatura. Acho que a sua vida foi um poema de amor e ódio.


10 – (JTV) – Outros autores que tenha gostado.


(JBS) – Todos os clássicos russos, Zola e Balzac, Sommerset e outros. A Enciclopédia de Diderot onde colaboraram Voltaire e Rosseau é um documento extraordinário. A Mãe de Gorky, Ana Karenine de Tolstoi e o jogador de Fiador Dostesvsky são imortais. Entre nós toda a obra de Almeida Garett, Raul Brandão no Húmus e por aí fora.


11- (JTV) – Tem alguma referência sobre alguns autores ainda no activo.


(JBS) – Sim, gostava de citar um nome: Armando Baptista Bastos.


12 – (JTV) – Não gosta de Saramago?


(JBS) - Muitíssimo. Não o li todo, mas considero obras excepcionais, os “Levantados do Chão” o “Evangelho Segundo Jesus Cristo” e o “Ano da morte de Ricardo Reis”. Saramago foi um velho teso, nunca se vergou, disse sempre o que pensava, não fez favores a ninguém, foi um campesino que conseguiu escrever livros e ser premiado, assumiu posições claras sobre a Vida, sobre Portugal, sobe a Ética, que, no seu dizer era o suficiente para termos uma sociedade melhor. A sua palavra preferida era o respeito. Saramago entendia que, se nos respeitássemos uns aos outros, o mundo seria outro e melhor. Ele não gostava da frase “Não faças aos outros aquilo que não gostarias que fizessem a ti”, achava que a frase deveria ser “Faz aos outros aquilo que gostavas que eles te fizessem”. Pronunciou-se sobre o amor sem grande entusiasmo, porque o amor actua num âmbito restrito e não tem força para mudar o mundo. Amou Pilar, que chegou tarde de mais. Recorda os avós maternos, Jerónimo e Josefa, os passeios que dava nos terrenos enlameados da Azinhaga, local onde nasceu, fala com saudade das idas á Biblioteca à noite, do curso de serralheiro civil que, curiosamente continha a disciplina de Literatura, do seu emprego na oficina de automóveis, onde afinava as válvulas dos motores e… e… e…


13 – (JTV) – O País e a crise? Tem receio?


(JBS) – Não é agradável viver-se num clima destes, onde as perspectivas não são nada agradáveis, claro. Mas o meu receio principal é que, além da crise económica / financeira, há ainda a crise de valores sociais que tem uma relação muito próxima com a crise financeira. No fundo isto está tudo ligado. Mas, o receio da crise económica /financeira que vem aí, tem duas componentes, uma é não saber-se oficialmente porque é que a crise se instalou, quais as causas e o Governo tinha uma certa obrigatoriedade de esclarecer alguns casos como seja o do BPN, Face Oculta e por aí fora e a outra deriva de ter sido o Governo que não actuou bem e sermos nós a pagar a factura. Vamos ver como as coisas vão decorrer.


14 – (JTV) – Qual a sua grande preocupação de momento?


(JBS) - As minhas grandes preocupações são sempre de ordem social O desemprego preocupa-me imenso e a possibilidade da economia entrar em recessão também. A vida em si é uma grande preocupação. Umas vezes corre bem outras mal, mas é a que temos.


15 – (JTV) - Para terminar o que é ainda gostaria de dizer.


(JBS) – Quero dizer – lhe MUITO OBRIGADO.

4 comentários:

  1. Quem agradece sou eu.Nem sabe como gostei de ler esta entrevista!

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  2. MINHA NOSSA.

    Como é que a senhora me descobriu aqui? Quanto me honra com a sua visita. Muito obrigado por ter vindo. E venha sempre que quiser.

    Cump do
    JBS

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  3. A MÃE

    Mãe é lembrança, é a recordação
    Que está sempre connosco, ao lado
    Da nossa vida que traz pela mão
    Mesmo que o braço esteja cansado

    Não precisa chamar, sabe se estou
    De boa harmonia com o que penso
    Porque foi quem sempre me abrigou
    Das brigas que ela sabe que venço

    Mãe, eu não choro por ti rio apenas
    Porque recordo-te nas tardes amenas
    Onde contavas histórias e bordavas


    Os teus bordados Mãe, eram coloridos
    Os soldados iam à guerra, aguerridos
    E ganharam as guerras como tu ganhavas

    JBS

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  4. Que lindo!Uma doçura cheia de garra, aquela garra que só as mães sabem!!!!
    Parabéns e o meu obrigada renovado.

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