FOTO DO ALMOÇO ANUAL

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A VELHA MALTA

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A POESIA DE MANUEL MADEIRA


À DESCOBERTA DAS CAUSAS NO SORTILÉGIO DOS EFEITOS
Manuel Madeira

Poesia

NA PAISAGEM POÉTICA, O UNIVERSO DO SER

Neste trabalho poético, o mais recente de Manuel Madeira, autor que já nos habituou a poemas de fôlego, amplia a sua relação ôntica, percorrendo as várias vertentes da dialéctica tempo-espacial do eu poético, na sua articulação com o universo.

No primeiro ciclo de poemas, constituídos por VI partes, intitulado Universo, o poeta posiciona-se exactamente no seu centro: «Estamos neste momento no Centro do Universo,/por mais que me afaste não me aparto do centro/ porque estou convosco pisando o mesmo chão/ que viaja connosco, que viajamos com ele.» (I, p. 9).

O universo é desde logo enunciado como um centro de afectos, no qual o ser se integra, na sua dimensão cósmica. No segundo poema, a palavra é introduzida como elemento estabilizador, o único, através do que é possível estabelecer pontos de referência, ainda que frágeis, pois pressentimos aqui a corrosão do tempo e dos afectos, projectados na inevitabilidade da entropia do cosmo: «Só as palavras sonham ser estáveis e intactas/como estacas cravadas nas bermas devassadas,/mas nem elas resistem à corrosão entrópica/nem nós que as usamos somos impolutos.»(II, p. 10).

A sua procura é intemporal, inscreve-se nas origens, remonta ao atomismo de Demócrito: «Falemos da forma e da essência das coisas,/procuremos a origem mais remota do ser/a causa das causas casuais das coisas/o nada original princípio e fim de tudo./Os gregos já tinham sonhado com o sonho,/Demócrito sonhou (...)». (III, p. 11).

A «matéria dinâmica» consubstancia a energia endógena que conglomera em si todos os sentidos, incorporando o orgânico e o inorgânico: «Porque a matéria sonha e pulsa desde o verme à estrela»: (IV, p. 12).


texto de MARIA DO SAMEIRO BARROSO

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