FOTO DO ALMOÇO ANUAL

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A VELHA MALTA

sábado, 12 de fevereiro de 2011

VIVA AS MULHERES (esboço de romance)


VIVA AS MULHERES,


(VIVA AS MULHERES, é uma homenagem ás mulheres que tiveram a coragem de se assunir como mães solteiras. Zeza, a personagem principal, é a filha dessa mãe solteira e vai contar o que lhe vai na alma.)

Sou a filha da Dorinhas e o meu nome é Maria José Martins Costa. Nasci aqui nesta terra, que é a terá onde estamos reunidos, às seis horas e trinta minutos da manhã de um dia de Agosto. Hoje é o dia do meu aniversário. Tenho já sessenta anos, fi-los de manhã. Vim de propósito comemorar esta data aqui convosco, porque a terra tinha saudades de mim. Foi o que me disseram, pelo menos. Alguém que está aqui na sala, com quem trocava regularmente comunicação, por carta, escreveu-me dizendo: Zeza, vem, vou preparar uma festa à tua chegada. Esse alguém é o José Costa, o meu irmão mais novo. Gostava que de pé todos lhe dirigíssemos uma salva de palmas. E o salão vibrou ao bater palmas para o Zé Costa, que não se conteve e saltou para o palco e abraçou a irmã. As palmas continuavam enquanto Zé Costa e a irmã se abraçavam. Cinco minutos durou a batida de palmas acompanhada de vibrantes chamamentos Zeza, Zeza, Zeza.. Zé Costa agradeceu aos conterrâneos os aplausos e pediu licença à irmã para se dirigir à plateia.


E disse:

- Há quarenta e oito anos, que é a idade que eu tenho, que não sabia nada da minha irmã. Porque eu nasci no ano em que a Zeza emigrou. Conheci-a há oito dias.. Não nos conhecíamos, portanto podem perceber a enorme alegria que estou a sentir.
As palmas ecoaram na sala e Zé Costa retirou-se do palco, deixando o espaço disponível para a irmã. Que disse:

- Agradeço a todos o carinho demonstrado, muito e muito obrigado. Saí da terra aos doze anos e voltei aos sessenta. Tenho muito para vos contar. A minha vida dá um belo romance e vou escrevê-lo e terá o meu nome, Zeza, que é como me chamavam, não sei porquê, nem donde veio. Fui Zeza à nascença, fui Zeza na escola e quando emigrei fui sempre a Madame Costa. Antes de ouvirem alguém dizer, digo-vos eu: vendi o meu corpo, passei momentos difíceis, tive grandes momentos e tive outros de sofrimento. Na vida sofre-se, sabiam. Mas uma coisa vos quero dizer: estou aqui de corpo inteiro e não se preocupem que honrei sempre o nome da nossa terra. A não ser assim não estava aqui, porque, por muito miserável que seja a pessoa, deverá sempre sentir a cara lavada. E eu sinto. Não tenho problemas com a vida nem comigo. Tenho saúde e tenho a minha independência financeira. E tenho um filho que um dia virá.

Foi nesta altura que a Drª Custódia Pinto, que desempenhava um cargo de secretariado na Câmara Municipal da cidade e que era bem conhecida na aldeia, subiu ao palco para se juntar a Zeza. E disse:

- Sei que a senhora foi uma grande defensora das mulheres, que esteve sempre ao lado delas e, quero que saiba que eu estou a seu lado, porque, se cometeu erros assumiu-os de cabeça erguida, como uma mulher que se preza deve fazer e eu, tal como a senhora, vou continuar com a luta que agora deixou, apesar dos tempos hoje serem outros, mas é sempre altura de mostrarmos que somos dignas do respeito e consideração de todos. Viva as mulheres.

- Afinal a aldeia transformou-se, disse Zeza, há mais consciência colectiva coisa que no tempo em que vivi aqui, não havia. Estou feliz por voltar, acreditem. E a nossa terra será cada vez mais uma terra justa, porque pelo menos dois habitantes daqui, lutaram nos momentos difíceis para que houvesse menos miséria, para que o sol nascesse para todos, para que todos pudéssemos ser livres e fossemos solidários. E hoje, aqui, nesta sala, vi que havia fraternidade, que somos humanos, que estamos neste mundo para sofrer sim mas também para levantarmos a nossa voz, quando isso se justificar. A minha vida foi de luta e continuará a ser. Por isso, estou satisfeita por ter voltado e por estar entre os meus conterrâneos. E não esqueçam nunca a nossa terra como eu não esqueci nunca.

Aplausos e mais aplausos e a sessão do encontro terminou ás tantas da madrugada. Zeza deu o “viva as mulheres” final. E o Zé Costa emocionado recebia os abraços das pessoas presentes.


João Brito Sousa

2 comentários:

  1. Uma Zeza das muitas que a nossaterra pariu. Zezas que por esse mundo fora deram o corpo e a alma a' vida para nao dizer ao diabo .
    Pode ser um esboco de romance mas, quantos de no's nao conheceram nas nossas aldeias ou terriolas Zezas que partiram com filhos nos bracos e coracoes destrucados procurando para alem do sol posto uma vida melhor e
    ais digna?
    Eu conheci !
    Voltaram algumas orgulhosas outras perderam-se sem encontrar o " el dorado " procurado e perdendo o orgulho . A vida foi-lhes madrasta, rastejaram como sapos, a alma em farrapos, lutaram mas nao venceram, voltaram para acabar junto aos seus, sentir a geada da manha e os cheiros que conheciam desde o parto das entranhas que as geraram.
    Eu conheci.......

    Fico esperando mais da Zeza e do Zeca.

    Abraco

    Diogo

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  2. Uma Zeza das muitas que a nossaterra pariu. Zezas que por esse mundo fora deram o corpo e a alma a' vida para nao dizer ao diabo .
    Pode ser um esboco de romance mas, quantos de no's nao conheceram nas nossas aldeias ou terriolas Zezas que partiram com filhos nos bracos e coracoes destrucados procurando para alem do sol posto uma vida melhor e
    ais digna?
    Eu conheci !
    Voltaram algumas orgulhosas outras perderam-se sem encontrar o " el dorado " procurado e perdendo o orgulho . A vida foi-lhes madrasta, rastejaram como sapos, a alma em farrapos, lutaram mas nao venceram, voltaram para acabar junto aos seus, sentir a geada da manha e os cheiros que conheciam desde o parto das entranhas que as geraram.
    Eu conheci.......

    Fico esperando mais da Zeza e do Zeca.

    Abraco

    Diogo

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