FOTO DO ALMOÇO ANUAL

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A VELHA MALTA

terça-feira, 3 de maio de 2011

CONTO




ERA COMO LHE CHAMAVAM.
Por João Brito Sousa

Ti Zé Inácio vivia perto da cidade e era almocreve de profissão. Tinha todo o equipamento necessário para tal desempenho e às sete horas da manhã já estava na cidade à espera dos seus clientes para os fretes do dia. Zé Inácio era um homem muito popular na sua região, homem desembaraçado, percorria as feiras e mercados e às vezes comprava um bezerro que logo o vendia ganhando os seus trocados.


Trabalhava sempre, quando não estava na cidade com o carro e a mula, estava no seu pequeno horto, onde cultivava legumes e batatas, que aos sábados ia vender ao mercado da cidade.
Francisca, a sua primeira mulher, tinha as lides da casa a seu cargo mais os trabalhos que os filhos lhe davam, vendia no mercado e dava uma mãozinha no terreno de cultivo. Zé Inácio era muito exigente com ela, ao ponto de Francisca se irritar por vezes com o esposo, discutindo forte e feio.



Aos domingos, Ti Zé ia até à taberna onde bebia o seu copo e cavaqueava com os amigos. Vinha almoçar à uma da tarde e depois deitava-se a descansar. E chamava Francisca para descansar com ele. Nos dias em que as coisas corriam bem o ambiente era de plena felicidade e até Francisca tratava o Ti Zé por meu querido.


Durante a semana os trabalhos continuavam e a vida ia rolando. Ti Zé era muito apaixonado pelo seu trabalho, trazia o muar bem alimentado e a carroça sempre num brinco, bem lavada, o que não invalida que às vezes não se zangasse com o animal, o que acontecia também com Francisca. Num desses desentendimentos, foi a Francisca que lhe pregou uma surra das antigas, o que levou Ti Zé a pensar melhor na sua maneira de lidar com a sua senhora.


- A partir de agora, vê lá se modificas essa tua maldita maneira de ser, porque quem bate aqui sou eu.


Estranho facto este, das zaragatas, porquanto Ti Zé não se metia na pinga, bebia, é certo, mas nada de excessos, nada fazendo supor nem se vislumbravam razões, para que tal acontecesse.



Mas acontecia.


Ti Zé começou a pensar no que lhe dissera Francisca e não aceitava lá muito bem que fosse ele a comer pela medida grossa, como se diz na gíria. Foi quando se lembrou da Madalena, que às vezes lhe surgia no caminho quando ia para o mercado, aos sábados, que mesmo na presença de Francisca, lhe pedia umas couves para o almoço.


- Toma lá as couves e deixa-me em paz.


Num dessas manhãs, TI Zé disse a Madalena, olha lá preciso de falar contigo.


- Qual é o assunto? indagou Madalena.


- Leva as trouxas e aparece lá em casa à noite.


Madalena foi e a conversa durou até às tantas. Ficou nessa noite em casa do Ti Zé e dormiram os três juntos. A coisa deu certo e durou muitas noites. O Joaquim Preto, quando o via, dizia-lhe.


- Estás bom ó Zé do Meio.


Era como lhe chamavam.


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