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A VELHA MALTA

terça-feira, 17 de maio de 2011

CRÓNICA





AS FRIAS MADRUGADAS

Por João Brito Sousa



nota - este texto é para o meu amigo Diogo Tarreta, que diz gostar do que eu escrevo. e eu agradeço.

O título é do Fernando Namora, o escritor médico já falecido. Estive a ler alguns poemas seus, com aquela dose de pessimismo q.b. e, entretanto, lembrei-me do meu aluno da primária, o Luís Matos, que era um craque na aritmética e tinha um raciocínio apurado, lógico e seguro. Nas outras disciplinas também era bom, mas na aritmética, upa…upa.


Mas o Luís, possuía uma particularidade interessante, ou talvez não: - não jogava à bola com os outros colegas. Nem lá aparecia por perto. E aquilo dava-me que pensar, porque razão o Luís não gostava de jogar à bola se a miudagem toda gostava!


A lógica da vida não será tão linear assim. Às vezes, as situações não encaixam na nossa maneira de ver as coisas. Cada um de nós tem o seu destino. Ou o seu fado, como quiserem. E além disso, há a esperança, que se traduz num pedido de empréstimo de qualquer coisa à felicidade. A felicidade, esse estádio que está difícil de atingir, porque a humanidade está de costas voltadas para ela. A vida de hoje é briga. Briga-se por uma oportunidade de emprego que nos surge, briga-se por um lugar na fila, briga-se na estrada e por aí fora. E não vejo hipótese de as coisas mudarem. Os exemplos que vêm de cima são péssimos. E, estou convencido que são para continuar.

A imprensa tem falado em desvios de fundos, por pessoas que até tinham conseguido algum prestígio, que se veio saber agora, foi conseguido à custa de atitudes menos próprias, que violam princípios, que não respeitam as normas estatuídas.


Encontrei o Pai do Luís por estes dias e fiquei a saber que uma dose forte o tinha levado. Pensei: o Luís tinha qualquer coisa, tinha esse pressentimento. Um rapaz com um raciocínio tão certinho e colocou-o ao serviço da causa errada. Os fraudulentos que a Imprensa fala hoje, são possuidores de bons indicadores intelectuais e não atinaram com o caminho certo; só burrada.


São as frias madrugadas da vida.


Mas a sociedade terá de mudar, com o esforço de cada um dos seus elementos, tentando perceber o que está errado e o que está certo. E aí entram os escritores, os professores e todos aqueles que deram provas de querer participar. E estão disponíveis para contribuir para um mundo melhor. Mas devemos ser humildes, uns e outros. A vida de hoje deixa-se ir na onda da arrogância e da maledicência. Erasmo de Roterdão já alertou para isso há quinhentos anos e entre nós, Almeida Garrett fez esta pergunta: quantos pobres é preciso sacrificar para se obter um rico.?


Esta resposta tem de ser dada.


A vida continua, sim, mas com a cara meio embaciada e de cabeça curvada. Mas que diabo, será difícil ver onde está esse lado negro que nos faz sofrer e envergonhar? Sim, porque a humanidade sofre, pelo que faz e pelo que os outros fazem E tem de saber as causa. Mas, enquanto aquela história, contada por Agostinho da Silva se mantiver viva, do puto que chega da escola e diz à mãe, raios, a escola nunca mais arde, a caminhada será difícil e complicada.



Qualquer romance, poema, artigo para jornais que eu escreva, terá de vir parar aqui, à zona onde o homem se encontra. Normalmente a fazer asneiras.


Mas tem de arrepiar caminho.


Acho eu.
João Brito Sousa




2 comentários:

  1. `a lógica da vida não será tão linear assim`
    é isso mesmo meu caro,raras vezes as coisas são o que parecem à primeira abordagem. O Luis tinha algo com ele. Todos nós escondemos quiçá sem nos apercebermos qualquer coisa. Eu chamo-lhe mimetismo da personalidade superficial. Em cada homem há um homem desconhecido,só ele se conhece e esconde. Talvez mesmo sem disso se dar conta. É raro o homem que não se crê dono da verdade,da sua verdade...ouve o seu semelhante,às vezes até com atenção mas lá dentro de si,naquilo a que chamamos a sua alma o seu pensamento diz-lhe:-ele não está certo, é só e sómente o seu ponto de vista!
    Tu não, na tua honradez intrincica ao teu ser, o homem é sempre um ser bom mas,nem todos o são.
    As frias madrugadas vão continuar, o mundo vai girando em volta dum universo sem fim e...os homens vão continuar a ser homens. inigmas dentro da sua própria existencia,melhorando talvez, mas devagar,muito devagar,animais de instinto de sobrevivencia!
    penso eu.

    Abraço meu amigo perdido e em boa hora reencontrado.

    Quantas ideias temos trocado?
    Não sei mas muitas. Nem sempre do mesmo lado da barreira mas sempre com o mesmo espirito de amizade que perdorará.

    Diogo

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  2. meu caro DIOGO COSTA SOUSA

    Viva.

    O teu comentário tem a vida de uma manhã no mercado 24 de Julho, tem a tranquilidade de Sócrates (O grego)tem a ternura dos lábios da Bardot e o encanto de um poema de Pessoa.

    É um texto que encanta. O José Elias tem que saber disto, porque ele é teu grande admrador.
    E eu também.

    Por isso te deixo o meu muito obrigado e um abraço.

    João

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