AS FRIAS MADRUGADAS
Por João Brito Sousa
nota - este texto é para o meu amigo Diogo Tarreta, que diz gostar do que eu escrevo. e eu agradeço.
O título é do Fernando Namora, o escritor médico já falecido. Estive a ler alguns poemas seus, com aquela dose de pessimismo q.b. e, entretanto, lembrei-me do meu aluno da primária, o Luís Matos, que era um craque na aritmética e tinha um raciocínio apurado, lógico e seguro. Nas outras disciplinas também era bom, mas na aritmética, upa…upa.
O título é do Fernando Namora, o escritor médico já falecido. Estive a ler alguns poemas seus, com aquela dose de pessimismo q.b. e, entretanto, lembrei-me do meu aluno da primária, o Luís Matos, que era um craque na aritmética e tinha um raciocínio apurado, lógico e seguro. Nas outras disciplinas também era bom, mas na aritmética, upa…upa.
Mas o Luís, possuía uma particularidade interessante, ou talvez não: - não jogava à bola com os outros colegas. Nem lá aparecia por perto. E aquilo dava-me que pensar, porque razão o Luís não gostava de jogar à bola se a miudagem toda gostava!
A lógica da vida não será tão linear assim. Às vezes, as situações não encaixam na nossa maneira de ver as coisas. Cada um de nós tem o seu destino. Ou o seu fado, como quiserem. E além disso, há a esperança, que se traduz num pedido de empréstimo de qualquer coisa à felicidade. A felicidade, esse estádio que está difícil de atingir, porque a humanidade está de costas voltadas para ela. A vida de hoje é briga. Briga-se por uma oportunidade de emprego que nos surge, briga-se por um lugar na fila, briga-se na estrada e por aí fora. E não vejo hipótese de as coisas mudarem. Os exemplos que vêm de cima são péssimos. E, estou convencido que são para continuar.
A imprensa tem falado em desvios de fundos, por pessoas que até tinham conseguido algum prestígio, que se veio saber agora, foi conseguido à custa de atitudes menos próprias, que violam princípios, que não respeitam as normas estatuídas.
A imprensa tem falado em desvios de fundos, por pessoas que até tinham conseguido algum prestígio, que se veio saber agora, foi conseguido à custa de atitudes menos próprias, que violam princípios, que não respeitam as normas estatuídas.
Encontrei o Pai do Luís por estes dias e fiquei a saber que uma dose forte o tinha levado. Pensei: o Luís tinha qualquer coisa, tinha esse pressentimento. Um rapaz com um raciocínio tão certinho e colocou-o ao serviço da causa errada. Os fraudulentos que a Imprensa fala hoje, são possuidores de bons indicadores intelectuais e não atinaram com o caminho certo; só burrada.
São as frias madrugadas da vida.
Mas a sociedade terá de mudar, com o esforço de cada um dos seus elementos, tentando perceber o que está errado e o que está certo. E aí entram os escritores, os professores e todos aqueles que deram provas de querer participar. E estão disponíveis para contribuir para um mundo melhor. Mas devemos ser humildes, uns e outros. A vida de hoje deixa-se ir na onda da arrogância e da maledicência. Erasmo de Roterdão já alertou para isso há quinhentos anos e entre nós, Almeida Garrett fez esta pergunta: quantos pobres é preciso sacrificar para se obter um rico.?
Esta resposta tem de ser dada.
A vida continua, sim, mas com a cara meio embaciada e de cabeça curvada. Mas que diabo, será difícil ver onde está esse lado negro que nos faz sofrer e envergonhar? Sim, porque a humanidade sofre, pelo que faz e pelo que os outros fazem E tem de saber as causa. Mas, enquanto aquela história, contada por Agostinho da Silva se mantiver viva, do puto que chega da escola e diz à mãe, raios, a escola nunca mais arde, a caminhada será difícil e complicada.
Qualquer romance, poema, artigo para jornais que eu escreva, terá de vir parar aqui, à zona onde o homem se encontra. Normalmente a fazer asneiras.
Mas tem de arrepiar caminho.
Acho eu.
João Brito Sousa
João Brito Sousa
`a lógica da vida não será tão linear assim`
ResponderEliminaré isso mesmo meu caro,raras vezes as coisas são o que parecem à primeira abordagem. O Luis tinha algo com ele. Todos nós escondemos quiçá sem nos apercebermos qualquer coisa. Eu chamo-lhe mimetismo da personalidade superficial. Em cada homem há um homem desconhecido,só ele se conhece e esconde. Talvez mesmo sem disso se dar conta. É raro o homem que não se crê dono da verdade,da sua verdade...ouve o seu semelhante,às vezes até com atenção mas lá dentro de si,naquilo a que chamamos a sua alma o seu pensamento diz-lhe:-ele não está certo, é só e sómente o seu ponto de vista!
Tu não, na tua honradez intrincica ao teu ser, o homem é sempre um ser bom mas,nem todos o são.
As frias madrugadas vão continuar, o mundo vai girando em volta dum universo sem fim e...os homens vão continuar a ser homens. inigmas dentro da sua própria existencia,melhorando talvez, mas devagar,muito devagar,animais de instinto de sobrevivencia!
penso eu.
Abraço meu amigo perdido e em boa hora reencontrado.
Quantas ideias temos trocado?
Não sei mas muitas. Nem sempre do mesmo lado da barreira mas sempre com o mesmo espirito de amizade que perdorará.
Diogo
meu caro DIOGO COSTA SOUSA
ResponderEliminarViva.
O teu comentário tem a vida de uma manhã no mercado 24 de Julho, tem a tranquilidade de Sócrates (O grego)tem a ternura dos lábios da Bardot e o encanto de um poema de Pessoa.
É um texto que encanta. O José Elias tem que saber disto, porque ele é teu grande admrador.
E eu também.
Por isso te deixo o meu muito obrigado e um abraço.
João