FOTO DO ALMOÇO ANUAL

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A VELHA MALTA

quinta-feira, 5 de maio de 2011

CRÓNICA

(António Aleixo)


QUE FELIZ DESTINO O MEU !...
Por João Brito Sousa

O título desta crónica, é um verso de António Aleixo, retirado dum dos seus poemas de amor. Trouxe-o para aqui, por um lado, para dar devaia ao poeta e por outro, para espraiar o meu raciocínio, quer quanto ao meu destino, quer quanto ao destino colectivo desta Nação de quase novecentos anos, já que penso que os mesmos não coincidem, temporalmente.


A palavra destino, num sentido genérico, tem uma força enorme e uma distância igualmente enorme; fica lá para os confins. Mas situando-se muito distante, tem, na pertença de cada um de nós, uma distância relativamente pequena e uma longevidade igualmente pequena. Quer dizer, o destino do País situa-se lá para o fim do Universo e o destino do homem, cada um por si, situa-se numa distância e longevidade próximas. Digamos então que destino do País e o destino do ser humano, apenas se vão encontrar no somatório dos diversos destinos do homem, podendo sim, nessa altura, encontrar-se esses vários destinos individuais, representado pelo último, com o destino do País.


“Que feliz destino o meu, desde a hora em que te vi, julgo até que estou no céu, quando estou ao pé de ti”, é o que canta Aleixo, que é o destino que o poeta requer para si, e, no fundo, requer para nós todos, pretendendo conduzir-nos a uma harmonia de interesses, para se chegar a um estádio de bem estar sentimental, neste caso, que nada tem a ver com políticas de Governos em exercício, mas sim com sentimentos, que se geram no interior de cada um de nós e dos quais, apenas nós somos responsáveis pela sua condução, que às vezes, por ser má, também não nos traz a almejada felicidade.


No campo social, há também um destino pessoal que navega dentro do campo das possibilidades de acesso, que potencialmente cada um de nós possui e nos são disponibilizadas pelo País, enquanto entidade responsável pelo destino de cada um de nós. E aqui é mais difícil de conciliar e ter êxito, porque é uma entidade colectiva a gerir um colectivo, com a particularidade deste colectivo ser o somatório de comportamentos individuais, cada um com a sua formação, o seu querer, a sua potencialidade, que vai encaixar na oferta do colectivo País.


O nosso destino particular, dependerá do comportamento do destino colectivo preconizado e implementado pela entidade maior designada País, não se podendo esquecer, que esse comportamento é executado por unidades de destino já ali ao virar da esquina, chamemos-lhe destino à vista, se bem que no conjunto se deva ter em mente que esse destino País é o destino a grande distancia.


Estará aqui a razão da grande desarmonia? O destino dum País é preparado e conduzido a uma velocidade mais lenta, porque é de dimensão maior, comparativamente ao destino pessoal de cada um de nós, que exige mais rapidez, por ser de extensão mais curta. Há aqui nestes comportamentos disparidade de procedimentos, o que origina o prejuízo numa das partes, normalmente a mais fraca e a de menores recursos e capacidades. Que somos nós.


O destino, num outro sentido, é uma palavra portuguesa que nos amarra e simultaneamente nos encanta. E que nos atrai, nos momentos mais difíceis. Às vezes até o cantamos porque somos um País, aparentemente, sem destino e por isso cada um de nós terá igualmente um destino precário. Mas cantadores de fado, sempre.


Eu não canto porque não tenho voz. Mas gostava.

Jbritosousa@sapo.pt

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