FOTO DO ALMOÇO ANUAL

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A VELHA MALTA

sábado, 7 de maio de 2011

CRÓNICA

(João Brito Sousa)



ESCREVER
Por João Brito Sousa

Escrever uma crónica para o jornal, escrever um livro, escrever de qualquer outra forma com a finalidade de publicar, é, num certo sentido, conversar com pessoas que nós não conhecemos, mas que talvez possamos vir a conhecer um dia. Ao escrevermos estamos a expor as nossas ideias e a emitir opiniões que podem ou não ser bem aceites por quem as lê. Mas isso é normal, porque o cronista ou o escritor gostam de ser lidos, e, sobretudo que os outros que nos lêem, se pronunciem sobre os assuntos que foram abordados. Porque escrever tem um conteúdo que se pretende divulgar.


O cronista ou escritor quer dizer coisas, que, no seu íntimo se destinam a melhorar o comportamento dos outros. Duma maneira geral é esse o objectivo da escrita. Todavia, o cronista ou o escritor, não fazem do que escrevem uma lei. Num texto ou num livro não cabe tudo, fica sempre uma margem para o leitor navegar. È que, escrever, além da técnica própria que exige saber e dominar, exige também dedicação e empenho. A actividade de escrever, resulta, por assim dizer, numa vontade enorme de dialogar com os outros, conseguindo ver nas personagens que cria, esses tais outros que falo. Às vezes, chegam-nos algumas opiniões sobre aquilo que escrevemos e, se nos são favoráveis, provocam em nós grande alegria criando-se uma relação de afecto entre quem escreveu e quem leu.


Para quem escreve, é importante ter do outro lado leitores exigentes, que coloquem questões, para que fiquemos com uma opinião mais concreta acerca da capacidade de nós próprios. O cronista ou o escritor deve conhecer os seus pontos fortes e fracos. E deve ser corajoso. Pessoalmente, escrevo para mim para poder chegar aos outros. E escrevo aquilo que penso. Mas devemos ensinar os leitores a ler os nossos trabalhos. Quem o diz é António Lobo Antunes, que aprecio sobretudo na crónica curta. Quando escrevo estou a pensar no leitor, porque está presente, nesse momento, a responsabilidade do que estou a dizer ou a escrever. Aprende-se a escrever? Sim, lendo os outros.

Ler os outros para conseguirmos o nosso modelo Normalmente o escritor tem um modelo de escrita que é vantajoso para quem escreve e para quem lê. Porque há uma identificação na maneira de ser entre quem escreve e quem lê o autor. Daí resultarem os leitores fiéis que têm os seus autores preferidos. Eça de Queiroz encantou-me na juventude e hoje ainda gosto de o reler. Eça era detentor daquela ironia fina, que nos rebocava e nos conseguia levar, sempre entusiasmados, até ao fim do livro.


Escrever, em suma, é uma ocupação igual a outra qualquer que nos dê prazer, mas ao escrevermos podemos escolher o assunto e dar-lhe a tonalidade que acharmos mais adequada. È das mais antigas formas de comunicar. Da mesma maneira que sentimos aptência para pintarmos um quadro a sentimos para escrever. Muitas vezes não temos nada para dizer mas sentimos vontade de escrever. Porque queremos estar entregues a nós próprios, no nosso mundo. Porque a escrita tem o seu mundo próprio. Quem escreve nunca está só mesmo que estejam apenas ele e o teclado. Há sempre um dialogo, mesmo que pareça surdo, mas que está presente. Há pessoas que gostam desta solidão. São os escritores. Que também precisam das pessoas, para as ver, para as observar, para lhes dizer bom dia. É uma outra forma de estar. Às vezes incompreendida.

Mas que vale a pena. Porque escrever é um aliado que temos ali à mão, que não discute nem briga. Isso pode vir depois. Mas naquele espaço de tempo que ocupamos a escrever o mundo foi cor de rosa. O que sabemos não ser.
A felicidade são momentos. E passamos por lá.


jbritosousa@sapo.pt

1 comentário:

  1. João
    Apaixonado que sou pela tua escrita,habituado que estou à tua integridade intelectual só me resta dár-te os parabens pelo texto.
    ....pela foto, com um cachimbo fumegante ...qual Hemingway!
    Abraço meu velho

    Diogo

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